Em criança rebolava pelo campo de mãos abertas
agarrando todas as que me cabiam no abraço,
no tamanho do peito.
Sugava-lhes os caules, desde o gosto da terra até à flor.
E, de barriga para o ar, segurando a vida nesse braçado,
- não sei se do sol, do calor ou das flores-
vinham borboletas visitar as minhas caretas... Azedas!
.
Eu não sabia.
Contava o avô velho que viviam intensamente e muito pouco,
que era bater de asas de um só dia,
que se cansavam muito e, à noite, morriam...
Eu entristecia.
Entardecia.
O avô velho sorria e embalava-me nas asas mágicas das borboletas.
Eu morria, cansada, naquelas mãos cheias perfumadas de erva.
Eu morria e não sabia que, no sono, sonhava com elas.
Era o tempo das "azedas"doces e elas visitavam-me todos os dias.
.
E eu não sabia.
.
Não sabia que as borboletas vivem tudo só por um dia.
.
.
(homenagem a mais uma "borboleta", cansada de sugar as azedas da vida.)
4 comentários:
Está lindo!... :)
Adoro os teus desenhos.
Mas os teus textos também são genuinos.
Acho que devias continuar a conjugar o que pintas com textos assim. Porque, já vi, quando queres também sabes pintar com as palavras.
Querida amiga, bom fim de semana.
Beijo.
Um dia bem vivido é uma vida inteira de felicidade.
A beleza das borboletas vale esse dia.
Um dia conto um sonho que em menina sonhei e não mais me esqueci.
Abraço grande, amiga.
A pintura está linda. O poema, magnífico.
Uma borboleta tão bela pode estar cansada mas não vive só um dia.
Depois dela descansar, no dia seguinte volta a viver intensamente, e no outro dia e no outro,..., enquanto houver dias.
Bj
João Sá
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