Em criança rebolava pelo campo de mãos abertas
agarrando todas as que me cabiam no abraço,
no tamanho do peito.
Sugava-lhes os caules, desde o gosto da terra até à flor.
E, de barriga para o ar, segurando a vida nesse braçado,
- não sei se do sol, do calor ou das flores-
vinham borboletas visitar as minhas caretas... Azedas!
.
Eu não sabia.
Contava o avô velho que viviam intensamente e muito pouco,
que era bater de asas de um só dia,
que se cansavam muito e, à noite, morriam...
Eu entristecia.
Entardecia.
O avô velho sorria e embalava-me nas asas mágicas das borboletas.
Eu morria, cansada, naquelas mãos cheias perfumadas de erva.
Eu morria e não sabia que, no sono, sonhava com elas.
Era o tempo das "azedas"doces e elas visitavam-me todos os dias.
.
E eu não sabia.
.
Não sabia que as borboletas vivem tudo só por um dia.
.
.
(homenagem a mais uma "borboleta", cansada de sugar as azedas da vida.)